Ter uma marca pessoal é uma merda
sobre lidar com as incoerências e hipocrisias de criar mesmo quando não estamos bem
Mais uma vez, sinto aquele aperto no peito. Uma sensação de que sou uma farsa. E que, talvez, a melhor atitude seja me calar e me retirar.
2018 foi um ano desafiador. Cheio de problemas, dúvidas e partidas. Assim como 2019.
Mas, se você rolar meu feed do Instagram até os posts desses anos, vai ver fotos de viagem em que eu, sorridente, visito um novo lugar e exploro a vida nômade — parecendo feliz e livre de preocupações.
As fotos bonitas escondem o fim de um relacionamento de quase uma década, a confusão, a dor de ter a vida virada de cabeça para baixo, as desilusões e a depressão.
E não é que eu estivesse mentindo. Eu era relativamente aberta sobre as dificuldades e perrengues. Mas, ainda assim, precisava manter minha marca pessoal. Naquela época, eu fazia posts patrocinados, tinha cursos e produtos à venda. E eu também era o produto.



O problema é que eu não consegui sustentar isso por muito tempo. Ver minha vida pessoal desabando e aparecer para falar sobre uma viagem, um produto ou qualquer outra coisa me parecia falsidade e hipocrisia.
Quem era eu para falar sobre qualquer coisa quando tudo que eu queria era desaparecer?
E foi o que eu fiz. Passei cerca de três anos sem publicar nas redes sociais.
Um dos grandes problemas de uma marca pessoal é que ela é baseada em nós mesmos.
Quando você tem uma marca que não é você — tipo a Obvious ou o Contente.vc — é mais fácil compartimentalizar. Dá pra entender o que é a marca e o que é você. Porém, quando a gente é a marca, é difícil. Porque a marca é a gente, é a nossa vida, e se a gente não está bem, me parece incoerente aparecer nos stories como se nada estivesse acontecendo.


Esses dias, conversando com uma amiga, ela me contou que passou por um episódio muito difícil. Ela tinha o lançamento de um novo curso programado e, poucos dias antes, a avó dela faleceu e a namorada a deixou. Ela fez o lançamento, entregou o que tinha que entregar, e depois, ficou um tempo longe das redes.
Me parece que é isso que é ter uma marca pessoal.
Tem dias que me sinto invencível. Noutros, fico obcecada com alguém que — aparentemente — tem mais sucesso que eu em qualquer área da vida e entro num espiral tentando entender como posso ser como aquela pessoa.
Em alguns dias, sinto inveja. Me sinto mal comigo mesma. Não confio nas minhas habilidades. Me acho feia, estranha, menos. Noutros, me sinto confiante. Vejo o tanto de coisas que já fiz e tudo aquilo que sou, e me orgulho. Sinto que vou conseguir tudo aquilo que sonho, e vou atrás.
Posso até ser consistente, mas não sou constante.
Afinal, sou humana. Não uma marca.